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domingo, 26 de junho de 2011

Rollerball

Sábado, dia 02/07

Sala Redenção - 15:30

A disputa no(do) futuro: civilização ou Barbárie?
        
Rollerball – Os Gladiadores do Futuro


1975. Direção: Norman Jewison


Conheça os Palestrantes

Cesar Augusto Barcellos Guazzelli é professor de História da UFRGS. Dedica-se as áreas de História da América Latina, Teoria e Metodologia, História e Literatura e História Social do Futebol. Foi orientador da primeira tese no Rio Grande do Sul sobre História e Futebol, e desde 2005 ministra, de forma pioneira, a disciplina de História Social do Futebol na UFRGS. Foi a partir de sua disciplina que os alunos organizaram o maior campeonato acadêmico de futebol da UFRGS: a Taça Cesar Guazzelli, que já contou com 7 edições em 5 anos. Também tem se dedicado a trabalhos relacionados a área Cinema-História, coordenando diversas atividades nos últimos anos. Publicou mais de 14 livros e 31 artigos em periódicos especializados.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/4706540695818245




José Orestes Beck é formado em História pela UFRGS. Organizou cinco ciclos de cinema e foi um dos organizadores do livro "A Prova dos 9: a história contemporânea no cinema". se didica a pesquisa de diversas temáticas com destaque para o Surrealismo e a ficção-científica cinematográfica. Atualmente é professor em Tapes.

Rollerball

Gladiadores de ontem, hoje e amanhã

César Almeida*

Por décadas, o cinema americano de Ficção-Científica foi dominado por leves aventuras espaciais que seguiam a tradição iniciada com os seriados dos anos 1930, protagonizados por heróis como Flash Gordon e Buck Rogers. Foi apenas a partir do fim da década de 1960 que este negligenciado gênero cinematográfico começou a abordar temáticas mais complexas, levando para as telas os questionamentos daquela inquieta geração.
Esse período, iniciado por obras como Fahrenheit 451, 2001 - Uma odisséia no espaço e O planeta dos macacos, atingiu seu momento mais sombrio e crítico entre os anos de 1971 e 1975. Em meio aos vários clássicos dessa safra (THX 1138, Corrida silenciosa, No mundo de 2020, etc...) está Rollerball - Os gladiadores do futuro, dirigido pelo bem-conceituado Norman Jewison e estrelado por James Caan.  
Embora não desfrute do prestígio adquirido por outros filmes de Ficção-Científica da época, Rollerball permanece uma obra de grande interesse por abordar a velha prática romana do panis et circenses, ou “pão e circo”, adaptando-a para o século XXI. Como se sabe, a política do “pão e circo” consiste (sim, verbo no presente) em suprir o povo de alimento e diversão para distraí-lo dos problemas diários e diminuir a insatisfação contra o governo. A obra de Jewison explora à fundo esse tema, além de analisar o gosto inerente ao ser humano pela violência.   
O roteiro de William Harrison, adaptado de um conto de sua própria autoria, apresenta um futuro distópico onde as nações ruíram economicamente e deixaram o mundo à mercê de grandes corporações empresariais. Após o caos inicial e as chamadas “Guerras Corporativas”, o mundo se estabilizou e as grandes empresas substituíram os Estados. Com o domínio das corporações veio o conforto e o luxo, mas também a perda da liberdade individual, a censura e o retrocesso cultural. No entanto, por algum motivo, o luxo não era suficiente para manter o pensamento da sociedade distante desses problemas. Sem as preocupações diárias, as pessoas começaram a prestar maior atenção aos governos. Era preciso distrair o povo. Assim surgiu o esporte rollerball.
Espécie de mistura entre rúgbi e hóquei, o rollerball foi a solução encontrada para saciar os apetites mais vorazes das massas, já que as guerras e os crimes, antes fartamente explorados pelas redes de televisão, haviam acabado.
O rollerball funcionava da seguinte forma: em uma pista circular, dois times compostos por patinadores e motociclistas disputavam a posse de uma bola de aço com objetivo de encaixá-la em uma sexta magnética. As motos puxavam e davam velocidade aos patinadores. Quando um time possuía a posse da bola e atacava, o outro fazia de tudo para impedi-lo. O contato entre jogadores era total, e não raro ocorriam mortes, encaradas com naturalidade por esportistas e platéia. Uma verdadeira arena de gladiadores futurista. E esse ultra violento esporte roubou as atenções ao redor do mundo.
 O jogo parecia cumprir com perfeição o seu objetivo, e várias cidades enviavam suas equipes para um longo campeonato mundial. No entanto, no meio de um esporte usado como demonstração de que a liberdade individual de nada valia, surgiu um herói. Jonathan E. (James Caan) se transformou no maior ídolo do rollerball. Um gladiador invencível, que liderava o seu time de forma vitoriosa contra qualquer inimigo/adversário. A idéia de que um único homem era capaz de se destacar e prevalecer naquele universo brutal podia inspirar as massas a fazer o mesmo contra o sistema. Por isso, Jonathan se tornou um perigo para as corporações.
Agora, o ídolo do povo precisava ser parado, ou melhor, vencido. E quando Jonathan percebe sua verdadeira importância, ele luta da única forma que conhece para provar que a liberdade ainda é possível: jogando.
Embora hoje datado pelo visual berrante típico dos anos 1970, Rollerball apresenta um excelente trabalho de direção do cineasta Norman Jewison. As seqüências de jogo, ponto alto do filme, são impressionantes por seu realismo brutal. Boas interpretações do elenco central dão credibilidade aos questionamentos do roteiro.
Jewison começou a carreira dirigindo comédias românticas bastante açucaradas, algumas delas estreladas por Doris Day. Determinado a fugir desse gênero pouco interessante, ele assumiu a direção de A mesa do Diabo (1965), substituindo Sam Peckinpah, que havia sido demitido. A mesa do Diabo, um drama sobre o submundo do jogo protagonizado por Steve McQueen, provou o gosto do cineasta por assuntos polêmicos. Em seguida, o diretor satirizou a paranóia da Guerra Fria em Os russos estão chegando! Os russos estão chegando!
A consagração veio com No calor da noite (1967), intenso drama policial que tinha Sidney Poitier e Rod Steiger como protagonistas. Um dos primeiros filmes hollywoodianos a abordar abertamente o racismo na sociedade americana, No calor da noite rendeu controvérsias e láureas ao diretor, incluindo o Oscar de melhor filme.
Sucessos como Crown – o magnífico (1968) e Um violinista no telhado (1971) vieram logo depois, um retorno ao lado mais comercial de Jewison. A maior polêmica de sua carreira surgiu com a adaptação do musical da Broadway Jesus Cristo Superstar (1973) para as telas do cinema. O filme enfureceu tanto judeus, que o acusaram de anti-semitismo, quanto cristãos, pela apresentação inusitada de uma história considerada sagrada.    
Dois anos mais tarde, Jewison decidiu continuar provocando controvérsia com Rollerball. Além dos temas já citados, a exploração da violência pela mídia era uma das provocações centrais da obra. Esportes violentos como o hóquei o e football são muito populares nos Estados Unidos, e eram um dos alvos das críticas do roteiro. No entanto, a moral pacifista do filme não foi muito bem compreendida por parte do público. Como já havia acontecido com Laranja Mecânica (1971), influência confessa de Jewison, cuja violência nas telas foi imitada por jovens na Inglaterra, Rollerball quase saiu da ficção para a realidade. As cenas na arena foram gravadas com uma platéia real, que para surpresa (e horror) de Jewison, acabou adorando o jogo. Isso, e o sucesso do filme, motivaram conversas absurdas sobre a criação de uma liga de rollerball. A idéia dessa liga nunca se concretizou, mas já foi suficiente para mostrar a estupidez da sociedade de espetáculo.
Essa estupidez ficou ainda mais evidente quando, quase trinta anos mais tarde, Rollerball ganhou uma nova versão pelas mãos do diretor John McTiernam. Nesse remake as conotações políticas e sociais foram deixadas de lado em favor da ação constante. Ao contrário do filme original, o Rollerball do século XXI se mostrou tão descerebrado e absurdo quanto o esporte fictício criado por Willian Harrison em 1973.
Nas décadas passadas, obras da literatura e do cinema alertaram sobre a aproximação de um futuro ameaçador para a humanidade. Hoje, não é difícil notar que nossos espetáculos de arena continuam a encantar massas cada vez mais alienadas, como acontecia a dois mil anos atrás na antiga Roma. Nosso presente está muito parecido com as previsões sombrias de autores como George Orwell e Anthony Burgess, portanto, filmes como o Rollerball de Norman Jewison continuam bastante relevantes.             

   





* Crítico de cinema. sartanawest@ig.com.br

A Bela do Sábado de Tarde



Maud Adams

Atriz sueca. Participou de vários filmes da série James Bond e das séries televisas Missão Impossível, Hawai 5-0 e Kojak




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domingo, 19 de junho de 2011

À Procura de Eric

Sala Redenção - dia 25/06

15:30

A classe operária ‘não’ vai ao paraíso: o futebol no mundo globalizado.

            A procura de Eric (Looking for Eric) 2009.
Direção: Ken Loach.


Conheça os Palestrantes

Luis Augusto Fischer é professor de letras na UFRGS. Articulista em diversos periódicos. Publicou mais de cinqüenta livros. Alguns de seus últimos títulos: ESCURO, CLARO - CONTOS REUNIDOS; MACHADO E BORGES E OUTROS ENSAIOS SOBRE MACHADO DE ASSIS; INTELIGENCIA COM DOR - NELSON RODRIGUES ENSAISTA; FILOSOFIA MINIMA LER, ESCREVER, ENSINAR, APRENDER; DICIONARIO DE PORTO-ALEGRES; DUAS AGUAS.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/2655093707436140





Rafael Hansen Quinsani é doutorando em História na UFRGS. Tem se dedicado a área cinema-história desde a graduação. Organizou cinco ciclos de cinema e publicou diversos artigos em livros e periódicos. Em 2010 defendeu a dissertação: A Revolução em Película: uma reflexão sobre a relação cinema-história e a Guerra Civil Espanhola.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/8582953893345367

Eric Cantona e Ken Loach

Eric Cantona: de “l’enfant terrible” a rei de Old Trafford

Rafael Belló Klein*

Quando o Manchester United acertou a transferência de Éric Cantona junto ao Leeds United, em dezembro de 1992, não havia como saber que acabava de ser contratado um dos jogadores mais importantes da história do clube, que desempenharia um papel fundamental dentro e fora dos gramados nos próximos cinco anos atuando pelos “Red Devils”. Sabia-se, no entanto, que se tratava de um jogador extremamente talentoso e ao mesmo tempo extremamente polêmico, que possuía o potencial para tornar-se um grande nome do futebol inglês, por ambas as características, como de fato se verificou nas temporadas subsequentes.
            Cantona começou a sua carreira como jogador profissional no Auxerre, da França, seu país natal, em 1983, vindo das categorias de base do clube.  Seu talento, no entanto, começou a ganhar maior destaque a partir da temporada de 1986-87, após a sua volta do empréstimo, no qual passou uma temporada no pequeno Martigues. Nessa época, suas boas atuações pelo Auxerre lhe renderam a primeira convocação para a Seleção Francesa, com a qual acabou vencendo o Campeonato Europeu Sub-21 de 1988. Por outro lado, seus problemas extracampo também começaram a se notabilizar em 1987. Cantona envolveu-se em um incidente no qual agrediu seu companheiro de equipe, Bruno Martini, goleiro de relativo sucesso, sendo integrante frequente das convocações para os Les Bleus entre 1987 e 1996. Já em seu início de carreira começava a ganhar a fama de “bad boy”, ou, como seus conterrâneos o chamavam, “l’enfant terrible”.
            Apesar de ter sido multado pela agressão ao companheiro, de outras atitudes polêmicas e do seu comportamento violento dentro de campo, Cantona atraiu o interesse de outros clubes, sendo contratado pelo Olympique de Marselha. Cantona teve dificuldades em adaptar-se a Marselha e os incidentes continuaram a aparecer. Em 1989 vieram mais duas punições graves. Primeiro, por insultar o técnico da Seleção Francesa na televisão, ele foi banido de partidas internacionais por um ano; e, a seguir, foi suspenso por seu clube por seis meses após irritar-se ao ser substituído e chutar a bola contra a torcida.
            O talento de Cantona, bem como seu comportamento impulsivo e agressivo, continuava a surpreender. Nas temporadas subsequentes, transferiu-se por meio de empréstimos para o Bordeaux e depois para o Montpellier, nos quais teve passagens apagadas, mas conturbadas, especialmente no último, no qual se envolveu em um briga com um companheiro, atirando suas chuteiras nele; episódio que acabou dividindo a opinião do vestiário acerca de seu comportamento e culminou em mais uma suspensão.
            Sua volta para o Olympique foi marcada por constantes desentendimentos com o treinador e com a comissão técnica e com os dirigentes. Apesar disso, suas atuações ajudaram a levar o Marselha ao título do campeonato, fato que não impediu sua ida ao pequeno Nîmes devido aos referidos desentendimentos.
            A continuidade dos incidentes envolvendo Cantona, mesmo no Nîmes o levaram a decidir-se pela aposentadoria precoce, em dezembro de 1991. Parecia que a carreira promissora daquele jovem talentoso, mas instável, chegaria ao fim com um grande fracasso. Entretanto, havia ainda quem acreditasse no jogador. Entre essas pessoas estava ninguém menos que o craque francês Michel Platini e o técnico Gérard Houllier, que o aconselhou a tentar um recomeço em outro país.
            Na metade da temporada de 1991-1992, o Leeds United anunciou a contratação de Éric Cantona. Apesar de disputar apenas 15 partidas pelo clube, as grandes atuações de Cantona foram fundamentais para que o Leeds conquistasse o título do Campeonato Inglês, formando uma grande dupla de ataque com o artilheiro Lee Chapman. Com isso, Cantona obteve a adoração dos fãs, bem como a atenção do poderoso Manchester United, rival do Leeds e vice-campeão naquele ano, e que conseguiu negociar com o Leeds a sua contratação no meio da temporada seguinte.
            Em Old Trafford, o brilhantismo de Éric Cantona atingiu seu ápice e juntamente com um elenco qualificado, que contava com importantes jogadores, como Peter Schmeichel, Denis Irwin, Gary Neville, Ryan Giggs, Paul Ince e Mark Hughes, conquistou o primeiro título do Campeonato Inglês para os “Red Devils”, desde 1967. Na temporada seguinte, seu talento continuou a fazer a diferença, o que culminou com a conquista do Double, o bicampeonato inglês.
            Porém, na sua terceira temporada com o Manchester United, em janeiro de 1995, Cantona acabou sendo expulso em uma partida contra o Crystal Palace. Seria um fato até corriqueiro na sua conturbada carreira. No entanto, quando saía lentamente de campo, Cantona, ao ouvir os xingamentos que lhe eram dirigidos por um torcedor, acabou por lançar-se com uma voadora, em estilo kung-fu, atingindo-o em cheio. O fato repercutiu enormemente na imprensa internacional, principalmente após a coletiva de impressa convocada após o incidente. Calmamente, Cantona chega, senta-se e pausadamente pronuncia talvez a sua mais conhecida frase: “Quando as gaivotas seguem o navio pesqueiro, é porque elas pensam que sardinhas serão jogadas ao mar. Muito obrigado.” A seguir, levanta-se e deixa a sala. Essa frase foi interpretada como uma crítica à imprensa, que, segundo ele, monitorava todas as suas ações.
            Cantona acabou sendo preso e condenado por agressão, pegando uma pena de duas semanas de prisão, que acabaram atenuadas para serviço comunitário. No entanto, Cantona foi suspenso pelo restante da temporada, o que custou ao clube o terceiro campeonato seguido, visto que, sem o craque, o time acabou por perder muito de sua criatividade e eficiência ofensiva.
            Mesmo com esse grave episódio, Éric Cantona mostrou que não perdeu sua genialidade, conquistando junto com o Manchester mais um bicampeonato nas temporadas de 1995-96 e 1996-97. Cantona havia se tornado o rei de Manchester, aclamado pela torcida. Aos olhos dos torcedores, sua grande habilidade sobressaía-se a sua personalidade criticada pela imprensa; basta assistir a algum vídeo de suas jogadas e seus gols para perceber o porquê. Sua carreira, no entanto, foi levada a um precoce fim (desta vez, definitivo) quando soube que não iria ser convocado para a Copa do Mundo de 1998, dado seu comportamento. Cantona marcou, oficialmente, 131 gols em sua carreira; 64 deles com o Manchester United.
            Em À procura de Eric, fica demonstrada a incrível força que o ídolo de uma torcida tem sobre a vida de seus fãs. Quando a situação na complicada vida do carteiro Eric Bishop fica ainda mais turbulenta, quem o auxilia, o motiva e o aconselha, frente a seus problemas pessoais é o seu homônimo, ninguém menos que o maior jogador da história do seu clube de coração, Éric Cantona. É pelo amor ao time, pela adoração ao ídolo máximo, que se reúne o grupo de amigos para resolver a situação aparentemente sem saída. Em uma solução cômica, beirando o impossível e o implausível, uma ação inspirada pelo craque, herói da torcida, transparece toda a importância e todo significado que um clube e seus jogadores adquirem para o torcedor e para seu imaginário. Por mais clichê que pareça, é, no entanto, verdade que o esporte, especialmente o futebol, contribui para amenizar as dificuldades da vida dos homens comuns, daqueles mortais que podem apenas sonhar em possuir a capacidade de fazer magia com seus pés, que é dada apenas a alguns poucos deuses em forma humana.


* Graduando em História pela UFRGS. rb-klein@uol.com.br

O cinema de Ken Loach











A Bela do Sábado de Tarde



Laura Ainsworth











Trailer À Procura de Eric

domingo, 12 de junho de 2011

Invictus

Sábado, dia 18/06

Sala Redenção 15:30

“Invicto mas inacabado”: esporte e Apartheid na África do Sul

Invictus 2009. Direção: Clint Eastwood


Conheça os Palestrantes














Luiz Dario Teixeira Ribeiro é Professor de História Contemporânea e História da África na UFRGS. Participa ativamente das atividades da área Cinema-História, estando presente nos ciclos de cinema realizados nos últimos cinco anos. Atualmente é doutorando na UFRGS.




    
Jéferson Sérgio Garcia é formado em História na UFRGS. Realiza especialização na FAPA sobre História da África. Também se dedica ao atletismo, maratonismo e Triathlon.

O Contexto Sul-Africano e a Copa do Mundo de Rugby de 1995.

O Contexto Sul-Africano e a Copa do Mundo de Rugby de 1995.

Rafael Klein
Graduando em História na UFRGS

A Copa do Mundo de Rugby, evento que reúne as melhores seleções do planeta em um único torneio, foi fundada em 1987. Antes disso, eram disputadas apenas competições locais, como, por exemplo, o Six Nations Championship (entre Inglaterra, França, Escócia, País de Gales, Irlanda e Itália). Dessa forma, até o presente, foram disputadas apenas seis edições do que hoje é o mais importante torneio de rugby, sendo que, neste ano de 2011, será disputada a sua 7a edição, na Nova Zelândia.
            A primeira edição do torneio, em 1987, foi disputada na Austrália e na Nova Zelândia, tendo vencido a seleção desta última, confirmando seu retrospecto como uma das equipes mais fortes e tradicionais do rugby internacional, não ficando de fora de nenhuma semifinal do mundial até a última edição, em 2007. Atualmente, os maiores campeões mundiais, com dois títulos cada, são a Austrália (1991 e 1999) e a África do Sul (1995 e 2007), sendo que o primeiro título dos “Springboks”, apelido da equipe sul-africana, teve um significado especial, bem retratado no filme Invictus. Recém saída do regime segregacionista do Apartheid, onde havia uma institucionalização do racismo por parte do Estado, a África do Sul vivia um delicado momento de abertura, onde surgia a possibilidade de uma real independência do país.



Embora se possa dizer que o regime do Apartheid tenha sido oficializado a partir das eleições de 1948, a segregação racial e o racismo já se fazem presentes na história do país desde o século XIX, principalmente nas organizações dos colonos europeus, sobretudo os de origem holandesa, os bôeres. Com a fundação da União Sul-Africana nas primeiras décadas do século XX, são promulgadas diversas leis, com o intuito de marcar uma distinção racial e subordinar a população negra – não considerados como cidadãos, apesar de ela representar a maioria da população. Entre elas figurava, por exemplo, a Native Labor Act (1911), que determinava as condições de trabalho para os negros, proibindo greves e a quebra de contratos, e a Native Land Act (1913), que dividiu o país em áreas que podiam ser propriedade de brancos e aquelas que podiam ser de negros, as quais inicialmente representavam apenas 7,3% do território.
A partir de 1948, o Partido Nacional, representante do interesse dos setores africânderes (de origem bôer), o qual experimentou uma crescente radicalização da proposta segregacionista desde a década de 20, em parte como reação ao surgimento das primeiras organizações negras anti-racistas, passa a tornar tarefa do Estado a institucionalização e formalização legal e prática do “desenvolvimento separado” (Apartheid, em africânder). Entre as medidas tomadas pelo governo durante o regime, pode-se destacar, por exemplo, a proibição de pessoas de determinadas raças viverem em algumas áreas urbanas (1950), a proibição de relações sexuais “inter-raciais” (1950) e a proibição de pessoas de diferentes raças de freqüentarem os mesmos lugares públicos (1953).



As medidas discriminatórias, no entanto, não foram aceitas passivamente. Os setores negros da sociedade sul-africana realizaram diversas greves e manifestações ao longo das décadas de 1950-60, visando a criação de um Estado multirracial na África do Sul. Entre esses grupos figurava o ANC (Congresso Nacional Africano), o qual tinha Nelson Mandela como uma das principais lideranças. Mandela, preso em 1962 por incitar greves, foi condenado em 1967 à prisão perpétua, tornando-se o símbolo da luta contra o Apartheid ao redor do mundo. Em 1990, teve sua liberdade restaurada pelo então presidente Frederik Willem de Klerk, devido à extensa campanha da ANC e à pressão internacional, tornando-se o presidente da África do Sul, em 1994, após as primeiras eleições democráticas multirraciais do país.



Neste contexto de início de uma abertura democrática, Mandela buscou tomar atitudes que fossem em direção a uma reconciliação entre os grupos negros e os brancos africânderes. O filme Invictus nos apresenta justamente essa atmosfera dos anos de 1994-95, onde, em uma das tentativas de aproximação dos grupos étnicos sul-africanos, o presidente Mandela dá apoio à participação dos “Springboks” na Copa do Mundo de Rugby, primeiro evento esportivo internacional sediado na África do Sul após o fim do boicote internacional ao regime do Apartheid, que excluía a participação do país neste tipo de eventos.



É importante ter em mente que a prática e as organizações esportivas no Apartheid eram mais uma face discriminatória do governo segregacionista, sendo o rugby o esporte branco por excelência e o futebol o esporte dos negros. Assim, os grupos negros em geral ou não se interessavam pelo rugby ou o odiavam, torcendo contra a seleção nacional. Mandela tenta romper mais essa barreira ao dar apoio público aos “Springboks”. A final da Copa do Mundo, realizada no Estádio Ellis Park, em Joanesburgo, contra a temível esquadra dos “All Blacks” da Nova Zelândia – grande potência do rugby mundial e franca favorita ao título – que contava com o extraordinário Jonah Lomu, eleito o melhor jogador daquele torneio (e para muitos um dos melhores jogadores de rugby de todos os tempos), impressionantemente vencida pelos “Springboks” veio para coroar o projeto de união do país em torno da torcida pela seleção nacional, consagrando figuras até hoje ídolos do rugby sul-africano, como François Pienaar, Joost van der Westhuizen, Joel Stransky e o negro Chester Williams.



A entrega da Taça Webb Ellis ao capitão de origem africânder François Pienaar pelo presidente Nelson Mandela dá o toque final de dramaticidade necessário à transformação dessa história em livro e em roteiro de filme. Para quem gosta da temática história e esporte, Invictus é realmente um filme indispensável.

A Bela do Sábado de Tarde



Marguerite Wheatley
Atriz Sul-africana




Invictus Trailer

domingo, 5 de junho de 2011

Sábado dia 11/06

Sábado, dia 11/06

Sala Redenção 15:30

O medo do esporte: os descaminhos da civilização

Munique (2005). Direção: Steven Spielberg.





Conheça os Palestrantes

Diorge Konrad é Professor da Universidade Federal de Santa Maria no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em História. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Social do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: História, Brasil, Movimentos Sociais e Políticos, Rio Grande do Sul. Organizou diversos ciclos de cinema na UFSM.
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/6649023072655942







Christiam Da Camino Karam é historiador com experiência em docência e pesquisa acadêmica sobre a História Medieval e Contemporânea da civilização árabe-islâmica, do Oriente Médio e do conflito árabe-israelense. Em relação a essas temáticas, já ministrou cursos e conferências no Brasil e na Colômbia, escreveu artigos e participou de debates e entrevistas nos meios de comunicação. É Mestre em História pela da Universidade de São Paulo (USP),
Para acessar seu currículo: http://lattes.cnpq.br/0224054552451191

Munique: terrorismo ontem e hoje

Munique: terrorismo ontem e hoje

Adriana Dorfman
Professora adjunta do Depto de Geografia da UFRGS


Onze de setembro de 2001: o ataque ao World Trade Center, prédio privado, símbolo da concentração do poder econômico nos Estados Unidos poderia ser entendido como um ataque à ordem vigente, ao imperialismo, ao capital. Provavelmente foi essa a intenção daqueles que planejaram sua destruição. Mas a forma como o evento foi noticiado transformou-o num ataque aos Estados Unidos, a todo o mundo ocidental, nos incluindo como vítimas.
No inicio da década de 1970 o terrorismo se difundiu pelos países centrais, usado como forma de romper o silêncio da grande imprensa sobre questões como a luta dos bascos, dos palestinos, dos irlandeses. Aviões seqüestrados, bombas em estabelecimentos comerciais e outras formas de ação direta mobilizavam a atenção internacional, levavam à evacuação de prédios, disseminavam o controle em áreas sensíveis. As lutas midiáticas estavam presentes na própria forma de agrupar tais militâncias: os terroristas eram - são - terroristas? Na guerra das representações, essa classificação apelativa traz em si sua condenação, e com ela, a reafirmação da “Democracia”. Como diz Guy Debord, “a história do terrorismo é escrita pelo Estado; portanto, é educativa. Naturalmente, as populações espectadoras não podem conhecer tudo sobre o terrorismo, mas podem saber o bastante para se convencerem de que, perante o terrorismo, o resto terá que parecer aceitável, e de qualquer maneira, mais racional e democrático." (Commentari sulla Societá dello Spettacolo).
Fica mais fácil ainda entender como a aplicação da categoria terrorista e o apagamento da História andam juntos quando pensamos no Brasil da ditadura militar. Os exércitos sem estado e contra o governo atuaram escolhendo alvos não convencionais, causando polêmicas, atraindo holofotes para suas bandeiras e ganhando poder de barganha. Aqui, as motivações nos são mais familiares, percebemos a manipulação presente na oposição da Revolução Redentora aos Terroristas Subversivos.
“Munique” mostra o momento em que tais questões faziam parte do dia-a-dia. Diferentemente da maioria das representações, o filme torna bastante presente a simetria de estratégias empregadas pelos agentes secretos do Mossad israelense e pelos militantes palestinos. Atenção à antológica conversa no vão da escada, em que se encenam os principais argumentos dos dois campos.

A Bela do Sábado de Tarde


Ayelet Zurer

Atriz israelense






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