Munique: terrorismo ontem e hoje
Adriana Dorfman
Professora adjunta do Depto de Geografia da UFRGS
Onze de setembro de 2001: o ataque ao World Trade Center, prédio privado, símbolo da concentração do poder econômico nos Estados Unidos poderia ser entendido como um ataque à ordem vigente, ao imperialismo, ao capital. Provavelmente foi essa a intenção daqueles que planejaram sua destruição. Mas a forma como o evento foi noticiado transformou-o num ataque aos Estados Unidos, a todo o mundo ocidental, nos incluindo como vítimas.
No inicio da década de 1970 o terrorismo se difundiu pelos países centrais, usado como forma de romper o silêncio da grande imprensa sobre questões como a luta dos bascos, dos palestinos, dos irlandeses. Aviões seqüestrados, bombas em estabelecimentos comerciais e outras formas de ação direta mobilizavam a atenção internacional, levavam à evacuação de prédios, disseminavam o controle em áreas sensíveis. As lutas midiáticas estavam presentes na própria forma de agrupar tais militâncias: os terroristas eram - são - terroristas? Na guerra das representações, essa classificação apelativa traz em si sua condenação, e com ela, a reafirmação da “Democracia”. Como diz Guy Debord, “a história do terrorismo é escrita pelo Estado; portanto, é educativa. Naturalmente, as populações espectadoras não podem conhecer tudo sobre o terrorismo, mas podem saber o bastante para se convencerem de que, perante o terrorismo, o resto terá que parecer aceitável, e de qualquer maneira, mais racional e democrático." (Commentari sulla Societá dello Spettacolo).
Fica mais fácil ainda entender como a aplicação da categoria terrorista e o apagamento da História andam juntos quando pensamos no Brasil da ditadura militar. Os exércitos sem estado e contra o governo atuaram escolhendo alvos não convencionais, causando polêmicas, atraindo holofotes para suas bandeiras e ganhando poder de barganha. Aqui, as motivações nos são mais familiares, percebemos a manipulação presente na oposição da Revolução Redentora aos Terroristas Subversivos.
“Munique” mostra o momento em que tais questões faziam parte do dia-a-dia. Diferentemente da maioria das representações, o filme torna bastante presente a simetria de estratégias empregadas pelos agentes secretos do Mossad israelense e pelos militantes palestinos. Atenção à antológica conversa no vão da escada, em que se encenam os principais argumentos dos dois campos.
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